Refugiados: Um Problema da Atualidade?

Também não oprimirás o estrangeiro; pois vós conheceis o coração do estrangeiro, pois fostes estrangeiros na terra do Egito. — Êxodo 23.9
Em 2015, a imagem do corpo do menino sírio Aylan Kurdi, de apenas três anos, morto à beira da praia, rodou os noticiários internacionais e causou consternação ao mundo. Aylam viajava com a família na tentativa de fugir do conflito na Síria, quando a embarcação que estava a bordo virou. O episódio expôs uma das maiores tragédias do nosso tempo: a crise de refugiados.
Apesar de aparentemente novo o problema dos refugiados é antigo. Ao longo da história da humanidade, por motivos religiosos, sociais, políticos e/ou sociais, milhares de famílias tiveram de abandonar seus países em busca de proteção em outras nações. O povo israelita e até mesmo cristãos perseguidos por causa da fé em Cristo viveram refugiados, estrangeiros pelo mundo.
Israel é o melhor exemplo bíblico de povo que viveu em terras estrangeiras.
Jacó e sua família foram para o Egito117 numa época de extrema escassez, quando José ainda era vivo e governava aquela nação (Gn 46). Mais de duzentos anos após a morte de José e de seus irmãos, assumiu o trono egípcio um faraó que desconhecia os feitos do primeiro-ministro hebreu que havia livrado o Egito de uma grande fome (Êx 1.8).
O Egito, portanto, não era local de refúgio, mas de opressão e trabalho penoso. Segundo Victor Hamilton, a submissão dos hebreus a esse tipo de trabalho tinha a intenção de “desmoralizá-los, convencê-los de sua posição de escravos e reduzir ao máximo qualquer possibilidade de insurreição”.
Por esse motivo, sempre que Deus exortava a nação israelita sobre a necessidade de proteção e cuidado ao estrangeiro, recordava do período tenebroso que eles experimentaram no Egito. Ao trazer-lhes à lembrança o período de peregrinação, o Senhor queria que eles se colocassem no lugar do estrangeiro, com empatia, a fim de entender as suas dificuldades.
Os gentios não podiam ser explorados ou maltratados, e a Lei lhes assegurava uma vida digna. O estatuto divino para o estrangeiro previa vários dispositivos de proteção, começando pela necessidade de não os oprimir e amá-los (Êx 23.9; Lv 19.33,34). A Lei permitia a colheita remanescente aos estrangeiros (lei da respiga), juntamente com órgãos e viúvas (Dt 24.19-22), e também a isonomia com os hebreus (Êx 12.49). Em um tempo em que os estrangeiros eram considerados inimigos, Deus instrui seu povo ao acolhimento e cuidado, agindo com compaixão. Afinal, de acordo com salmista, o Senhor guarda o peregrino (Sl 146.9).
A crise de refugiados é um problema característico dos tempos do fim, pois em geral está associada às guerras e aos conflitos internos (Mc 13.7).
Todavia, isso não pode nos anestesiar em face de problema humanitário tão premente, pelo que os eventos escatológicos não afastam a responsabilidade do povo de Deus de dar mostras do seu amor e justiça para com o próximo e necessitado (Sl 72.13; Pv 31.20), enquanto aqui estiver.
Mais importante ainda, as Escrituras parecem dar ênfase, como vimos, à proteção do estrangeiro, diante de sua condição de vulnerabilidade. É significativo relembrar que quando veio a esta terra o Filho de Deus encarnado esteve também na condição de migrante. Em virtude da perseguição empreendida por Herodes em Belém, José e Maria tomam o menino Jesus e partem em direção ao Egito (Mt 2.13), onde ali vivem durante anos como estrangeiros. Em outras palavras, Jesus e sua família viveram como refugiados.
Em seu ministério terreno, Jesus derribou as barreiras étnicas e raciais, subvertendo sutilmente o orgulho nacional israelita, para amar, salvar e curar samaritanos, gregos e romanos. Cristo se importa e se compadece daqueles que se encontram nessa condição, pois conhece o seu sofrimento e infortúnio (Hb 2.17-18; Fp 2.8). Por esse motivo, aqueles que acolhem o estrangeironecessitado são dignos de honra (Mt 25.40).
Aparentemente, a maioria dos cristãos concordam com a ideia de que os refugiados devem receber proteção e cuidado. Todavia, poucas vezes esse pensamento se transforma em ação concreta. É isso o que apontou uma pesquisa131 realizada pelo instituto Lifeway em 2016 nos Estados Unidos: Mais de 8 em cada 10 (86%) dos entrevistados concordaram que os cristãos devem “se importar sacrificialmente com refugiados e estrangeiros”.
Apenas 1 em cada 10 discorda. Enquanto 80% dos pastores consideram um privilégio cuidar dos refugiados, cerca de 1 em 8 (13%) discorda. Ainda assim, os pesquisadores descobriram que poucas igrejas tomaram medidas para ajudar os refugiados.
Entre os pastores, 1 em cada 5 (19%) dizem que sua igreja está ajudando refugiados no exterior, e 1 em cada 3 (35%) abordou a crise dos refugiados sírios do púlpito.
Mais de 4 em 10 (44%) acreditam que há uma sensação de medo em sua igreja sobre os refugiados que vão para os Estados Unidos.
Tal pesquisa nos mostra a distância entre a teoria e a prática dentro dos grupos cristãos acerca da crise de refugiados. Isso deveria compelir a igreja cristã a reconhecer ainda mais a gravidade do problema, saindo da indiferença para a ação real.
A questão dos refugiados é um tema atual e complexo. Não obstante, considerando que o Senhor é um alto refúgio para o oprimido (Sl 9.9), a comunidade cristã deve ser uma comunidade de refúgio para os estrangeiros perseguidos. Sem desconsiderar os aspectos que envolvem a segurança nacional e a política migratória, aos cristãos cabe, do ponto de vista prático, dar acolhimento àqueles que precisam de proteção.

Extraído do Livro: "Seguidores de Cristo", de Valmir Nascimento - CPAD
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Autor Moisés Duarte

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